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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O ano da morte de Ricardo reis



Obra: O ano da morte de Ricardo Reis

Autor: José Saramago

Páginas: 494

Resumo:
 Esta obra do brilhante autor José Saramago destaca-se na vida do autor não só por ser considerado o seu Magnum opus mas também por ser o livro que o aproximou e o fez conhecer a sua esposa Pilar, sendo também o livro preferido desta. Esta obra surgiu quando Saramago decidiu dar uma morte ao único heterónimo de Fernando Pessoa, e seu preferido, a quem nunca foi atribuída uma morte. O próprio autor chegou a admitir que, quando jovem, acreditava que Ricardo Reis era um leitor independente, descobrindo mais tarde que se tratava de um heterónimo.
 A obra é iniciada quando Ricardo Reis, um médico e poeta, regressa a Lisboa após muitos anos de exílio no Brasil, devido à instalação da República em Portugal (devo realçar que Reis era um defensor da monarquia). Reis encontra uma Lisboa chuvosa e melancólica, decidindo ir para um hotel para se estabelecer. Nos seus primeiros dias em Lisboa, Ricardo Reis ocupa páginas com as suas divagações pela Lisboa que ele tinha abandonado, divagações estas típicas de Saramago. O leitor tem a informação de que Fernando Pessoa tinha morrido nesse mesmo ano com uma doença proveniente do excesso de álcool, através de uma notícia que Ricardo Reis lê no jornal. Reis decide visitá-lo ao cemitério e começa uma reflexão sobre a vida e obras do autor.
 No hotel onde Ricardo Reis se instala, acaba por conhecer uma criada de seu nome Lídia, nome este presente em vários poemas do poeta devido à influência de Horácio. Reis fica fascinado por esta criada e acaba por dedicar muitos poemas a esta, como o conhecido "Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio". Reis faz amizade com os funcionários do hotel e com dois hóspedes: Marcenda e o seu pai, originários de Coimbra. Marcenda chama a atenção de Ricardo Reis por não conseguir movimentar a mão esquerda. Reis começa a aproximar-se da família e chegam a ir ao teatro juntos.  Ricardo Reis aceita Marcenda como sua paciente e compromete-se a curar a mão desta, mesmo percebendo que a deformidade está associada a fatores externos como a morte da mãe desta e a procura do pai por uma amante.
 No dia da passagem de ano, as divagações lisboetas encontram um fim pouco provável quando Reis chega ao seu quarto de hotel e encontra o fantasma de Fernando Pessoa. Pessoa explica-lhe que, depois de mortas, as almas têm o direito de deambular pela Terra durante 9 meses para compensar os meses de gravidez e é o tempo que demora a que alguém seja totalmente esquecido. Pessoa faz referência a um dos seus poemas, ao afirmar que é estranho olhar para o espelho e apenas ver o seu exterior, não se conhecendo a si mesmo.
O livro acaba por assumir um caráter político, quando Reis inicia reflexões sobre a situação económica e política na Europa, fazendo referência aos diversos ditadores. Reis obtém várias informações nos jornais que ele lê religiosamente e que, mais tarde, usará para atualizar Fernando Pessoa na situação do mundo, levando a que seja referido o poema "Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia". A certa altura, a situação política de Portugal começa a afetar Ricardo Reis quando a PVDE solicita a presença dele, o que faz com que muita gente o veja de forma desconfiada e o considere uma pessoa polémica. Ricardo Reis vai ao encontro da PVDE e descobre que um dos superiores o chamou por ter um interesse no médico que saiu do Brasil, no momento após uma revolução neste, e no qual tinha uma clínica estável e próspera. Reis ganha um interessado, Victor, que tem contactos com o gerente do hotel onde Reis estava instalado, e que vai ficar curioso sobre o médico.
 Reis decide mudar-se para uma casa e Lídia prontificou-se a visitá-lo sempre que possível. Com a chuva constante, a melancolia de uma casa abandonada e a solidão, a casa tornou-se o cenário perfeito para Reis se dedicar à escrita de vários poemas. Fernando Pessoa vai visitá-lo e acabam por discutir o significado de solidão.
 Ricardo Reis acaba por se relacionar com Marcenda quando esta o visita na casa nova, mas ela despede-se dele e não tenciona voltar a vê-lo. Reis encontra uma clínica para exercer a sua profissão, mesmo estando apenas a substituir um colega médico. Reis sofre várias críticas por parte da vizinhança por receber na sua casa Lídia e Marcenda mas não se deixa afetar por elas. Reis ainda se envolve várias vezes com Marcenda até que esta afirma ter perdido a esperança e, por isso, não irá regressar a Lisboa. Reis decide ir a Fátima, onde sabia que Marcenda iria estar mas desilude-se quando tem que aguentar um dia abrasador e não encontra a sua pretendida. Ricardo Reis regressa a Lisboa onde encontra uma Lídia calma e sem muitas questões sobre a visita inesperada do seu amado.
 Ricardo Reis encontra-se numa melancolia, chegando a ponderar regressar ao Brasil por sentir que Portugal não era o seu país. Lídia fica grávida e Reis não pretende perfilhar o filho. Nas ruas e jornais há uma presença vincada de confrontos políticos, estando o povo a apoiar Salazar. Ricardo Reis perde a paixão pela vida que lhe restava e entra no tédio. Lídia visita-o, a chorar, e diz-lhe que o irmão, Daniel, e os  outros marinheiros estavam a preparar uma revolta política. Reis vai ter com ele para o convencer a desistir do plano mas não consegue falar com ninguém e os navios são atacados pelo governo.
 Reis tenta falar com Lídia para lhe dar os pêsames mas não a consegue encontrar. Fernando Pessoa vai visitá-lo a casa para se despedir, já que o seu tempo tinha acabado. Ricardo Reis decide acompanhá-lo para a morte, levando o livro The god of the labyrinth, muito mencionado ao longo da obra, para livrar o mundo de mais um enigma (tal como Saramago livrou o mundo do enigma da morte de Ricardo Reis).
 Esta obra foi a escolha acertada para o estudo de José Saramago dos alunos do 12.º ano, introduzida no ano lectivo de 2017/2018.

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